(Ferreir Gullar, nascido em 10 de setembro de 1930 – Poema Sujo, publicado 1977 – conhecido desde 1975)
Há Muitas Noites na Noite, de Silvio Tendler – sobre o Poema Sujo)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
Naqueles anos me incomodava muito saber que tinha esta frase no Poema Sujo de Ferreira Gullar. Comprei o livrinho porque minha musa, meu amor platônico, era uma militante que amava este poema. Eu amava era Castro Alves, uma coisa ridícula para os padrões da Liberdade e Luta. Hoje acho o poema de Ferreira Gullar do cacete e volto a ler Castro Alves com toda a revolta dos meus 16 anos.
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São os stalinistas que vão chamar Liberdade e Luta de Libelu. Libelu era a designação
para gente festeira e inconsequente. Socialismo de festa e de orgia sexual. E da droga, apesar de os militantes da OSI, que dirigiam a tendência liberdade e Luta ,serem expulsos ou excluídos se usassem droga. E mesmo hoje, Libelu, é uma maneira de desmerecer toda a importância que teve aquele pequeno grupo por colocar no debate a necessidade de lutar pelas “Liberdades Democráticas” e depois por um Partido Operário Independente e depois pela Assembléia Constituinte Livre e Soberana. Foram propagandas que causaram impactos, apesar do grupo minúsculo que era a OSI.
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“No plano da arte gráfica é possível aprendermos com a criatividade revolucionária que a LIBELU possuía. Enquanto que os stalinistas confeccionavam cartazes com foices, martelos e figuras cinzas, assexuadas e uniformizadas, a LIBELU desenhava no centro do seu cartaz um gatinho. Abaixo da imagem do pequeno felino surgia a seguinte frase: NEM TODOS OS GATOS SÃO PARDOS. Ou seja, existe diversidade (estética, sexual étnica, filosófica, etc) e o marxismo precisa lidar de modo revolucionário com esta questão. A atitude criativa da LIBELU”
Será possível ignorar ” o nacional e popular”? – E a vida como é que fica?
“Que opor-lhe? Opomos, é certo, às superstições em que assenta a base do ritual, a critica marxista, a relação objectiva com a natureza e as suas forças. Mas esta propaganda cientifica e critica não resolve o problema: desde logo, porque não atinge ainda, nem atingirá durante longo tempo, mais do que uma minoria de pessoas; depois, porque essa própria minoria sente a necessidade de encarecer, de elevar, de enobrecer a sua vida pessoal, pelo menos nos momentos mais importantes.”(7)
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“Sem musa aqui não fico Odorico”
Frase atribuída da José Pancetti, quando foi para a Bahia a convite de seu amigo Odorico Tavares. Outra frase atribuída a Pancetti, que era chamado de comunista. “Partido Comunista me explora”.
As musas não morreram, a arte figurativa também não – é só olhar os muros das grandes cidades. Nem mesmo as vanguardas morreram.Mesmo a arte comtemporânea tem algo de figurativo e até utilitário.(2) Tudo ao mesmo tempo agora.
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Os rituais laicos. “O Nacional Popular” não morreu e não deve morrer.
Vivemos hoje o crescimento de seitas evangélicas. A maioria apoia a direita. Todas elas atacam a cultura popular do Brasil. Em particular a Umbanda que os pentencostais, maioria destas seitas, atacam. Até mesmo alguns militantes atacam a Umbanda, assentando seus argumentos num pretenso purismo do Candomblé.
O que não podemos esquecer é que grandes manifestações populares são influenciadas pela Umbanda e semelhantes. O Maracatu rural e seus cantos da jurema. Aqui a Umbanda recupera a mata e a cultura indígena.
Na festividade de reis, os caretas do Reisado, dançam cantam e principalmente contam todas a mentiras possíveis para despistar os soldados de Herodes que procuram o menino Jesus. Uma festa religiosa, com bebida, música e mentiras. E máscaras.E sobem nos telhados, gritando que “vão fazer coco” e outras frases escatológicas, para atrapalhar a reza.
“A Gente brincava cinquenta, sessenta cazumbas num terreirão bonito, todos com caretas simples…
“Na hora da reza, pra atrapalhar o rezador, a gente fazia essas estripulias. Enquanto o pessoal tava rezando a gente tava fazendo toda essa macacagem. Trepava no alto do barracão, arrancava palha, gritava que queria fazer cocô” – idem pág. 28″(10))
No Bumba-meu-boi do Maranhão os cazumbas, mascaradas e paramentados, também vão na contramão da normalidade. Quando estão com a máscara, pais-de-família, ou crianças e mulheres, fazem a maior algazarra, brincam com os passantes, fazem disputas entre si, fingem brigar. Ao tirarem a máscara voltam à “seriedade” e ao bom comportamento.(5)
Além do mais as máscaras podem ser reatualizadas em momentos cruciais da nossa história. E provocar debates importantes. E quem diz que não podemos e devemos burlar a democracia, este momento privilegiado de luta, mas também do exercício supremo da sociedade de controle e controladora.
“É uma violência simbólica proibir o uso de mascaras. Dia 7 de setembro, todos deveriam ir às ruas mascarados”, disse Caetano, segundo o Mídia Ninja. O coletivo jornalístico divulgou informações sobre o encontro com o compositor em suas páginas no Facebook e no Twitter.(6)
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jurema entidade de umbanda de origem indígena.(4)
O município de Nazaré da Mata, em Pernambuco, capital do Maracatu de Baque Solto
“Dona Biu, uma das remanescentes da família fundadora, também falou sobre o que mantém a agremiação de pé. “Depois de Deus, Rei Salomão e a Jurema Sagrada”, disse referindo-se à religião predominante no maracatu de baque solto. O Cambinda Brasileira desfila na passarela oficial da cidade do Recife, nesta terça-feira (13), onde disputará o título do Carnaval 2018.”(3)
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(1).MARANHÃO DE AMANDA(Não é o de Zé Sarney que seria odiável. É o Maranhao de Amanda que é amorável, amável, digno de ser amado.. Significado do Nome Amanda
Amanda: Significa “digna de amor”, “amável”, “aquela que deve ser amada”.
(2)- Parangolés e Penetráveis: a influência japonesa em Hélio Oiticica.
(3)- Maracatu Cambinda Brasileira desfilou em sua cidade natal, Nazaré da Mata, nesta segunda-feira (12)-por Paula Brasileiro
(4)- TORÉ E JUREMA: EMBLEMAS INDÍGENAS NO NORDESTE DO BRASIL – Rodrigo de Azeredo Grünewald
(5)careta de CAZUMBA (livro)
(6)- Caetano Veloso cobre rosto e divulga apoio a máscaras em protestos no RJ
(7)- Questões do Modo de Vida-Leon Trotsky
(8)- A crítica de arte hoje, Ferreira Gullar
(9)- PEDRO VERMELHO, de “UM RELATÓRIO PARA UMA ACADEMIA” , um conto de Kafka
Um grafiteiro que leu Franz Kafka.
(10)- careta de CAZUMBA (livro)-29/03/2018